Antiga sede oficial do governo guarda um rico acervo aberto à visitação do público de terça a sexta-feira
Fábia Assumpção / Agência Alagoas
Visitar o Museu Palácio Floriano Peixoto (MUPA) é como fazer uma verdadeira viagem no tempo pela história de Alagoas. Transformado em museu há 17 anos, o Palácio Floriano Peixoto, antiga sede oficial do governo alagoano, destaca-se pela suntuosidade e pelo rico acervo, que inclui obras de arte, a exemplo de telas do pintor alagoano Rosalvo Lobo, peças de decoração e mobiliário dos séculos XIX e XX.
O imponente prédio histórico, que hoje abriga o MUPA, está instalado na praça que também leva o nome de Floriano Peixoto, embora seja mais conhecida como Praça dos Martírios, por estar localizada em frente à Igreja Nosso Senhor dos Martírios.
Aberto à visitação de terça a quinta-feira, das 9 às 17 horas, e às sextas-feiras das 9 às 14 horas, o museu é uma parada obrigatória não só para turistas, mas também para os alagoanos que queiram conhecer um pouco mais da rica história do estado de Alagoas. “Hoje recebemos uma média de 300 a 400 visitantes, por mês, no museu. A maioria turistas e grupos de escolas”, informa a supervisora do MUPA, Aline Torres.
Ela informou que, para ampliar a divulgação do Museu para turistas e moradores locais, está sendo criada uma página oficial do MUPA no Instagram. Informações sobre o MUPA também estão disponíveis no site da Secult/AL, no endereço http://www.cultura.al.gov.br/equipamentos/museu-palacio-floriano-peixoto-mupa.
A entrada é gratuita e as visitas só precisam ser agendadas por grupos acima de 30 pessoas, a exemplo de estudantes de escolas. O agendamento pode ser feita pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. As visitas, que duram em média 20 minutos, são conduzidas por guias, a maioria estagiários dos cursos das áreas de humanas, como estudantes de história e biblioteconomia. Segundo Aline, as visitas guiadas possibilitam que o visitante conheça melhor a história do palácio e asseguram a conservação do acervo.
As instalações do Museu também são abertas para ensaios fotográficos, que devem ser agendadas por meio de ofício. “Recentemente a Igreja Nosso Senhor dos Martírios foi reaberta, após uma reforma, e com a volta das cerimônias de casamentos, o palácio já foi utilizado para ensaios fotográficos por pelo menos dois casais”, conta Aline.
Durante nossa visita ao Museu, encontramos o casal de turistas de Palmas (TO), Naiane de Jesus e Roni Paulo que vieram passar cinco dias em Maceió e incluíram no roteiro visitas aos museus da cidade, entre eles o MUPA. Não se arrependeram do passeio. “Antes de viajar fizemos uma pesquisa na Internet e tomamos conhecimento da existência do Museu Floriano Peixoto e colocamos no nosso roteiro de passeios pela cidade”, explicou Naiane. Segundo eles, a visita, superou as expectativas. “É uma visita única, porque aqui, conhecemos um pouco da história de Alagoas e do Brasil”, exaltou.
Prédio secular mistura vivências do passado e do presente
Um dos pontos que chamam mais a atenção de quem visita o Museu é o Salão Nobre, localizado no primeiro andar do prédio. Com altos relevos e móveis em estilo Luís XV, o salão mostra a opulência da decoração da época. Em uma de suas alas, esculturas em louça portuguesa representam a justiça, a lavoura, o comércio e a história. Do salão nobre é possível acessar a varanda do palácio e ter uma visão deslumbrante da Praça Floriano Peixoto - no momento em reforma - e da Igreja Nosso Senhor dos Martírios, além dos jardins do antigo Palácio.
No hall de entrada do MUPA, uma descrição publicada na época da inauguração do prédio, pelo antigo jornal A Tribuna, do Partido Republicano, diz que “a fachada do Palácio Floriano Peixoto é de ordem toscana, modificada com dois pórticos, um inferior e outro superior que formam o terraço. Da entrada ao vestíbulo uma escadaria de granito de cinco degraus que serve de base aos pórticos da fachada, ao lado das quais sobressaem dois corpos colaterais da mesma ordem, trabalho esmerado em pedra de talha, imitando cantaria, formando o embasamento da obra, com quatro janelas em estilo dórico”.
Na escadaria do Museu Palácio, vê-se, ao fundo, o busto do 2º presidente do Brasil, Floriano Peixoto. Através do Decreto Estadual nº 417, de 17 de outubro de 1947, assinado pelo governador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, o edifício oficial, residência e palácio do governo, passou a denominar-se de "Palácio Marechal Floriano Peixoto". Ao longo do prédio também são encontrados os bustos do presidente Getúlio Vargas e dos intelectuais alagoanos Aurélio Buarque de Hollanda e Lêdo Ivo.
O Salão de Despachos do antigo Palácio Floriano Peixoto continua sendo utilizado para eventos oficiais do governo, a exemplo da recente posse do governador Paulo Dantas, em seu segundo mandato. Nele encontra-se a Galeria dos Governadores de Alagoas desde a gestão de Pedro Paulino da Fonseca (1880-1890). Recentemente foram instaladas as fotos dos mais atuais, Renan Filho e Paulo Dantas. Acima da imponente mesa de reuniões está a obra do pintor Pierre Chalita denominada Emancipação Política de Alagoas.
O MUPA é administrado pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Solidária (Secult/AL), em parceria com o Gabinete Civil, responsável pela manutenção da Residência Oficial que ocupa parte do primeiro andar do palácio e ainda é utilizada pelo governador para realização de eventos oficiais, como almoço e jantares com autoridades.
Palácio integra conjunto arquitetônico dos Martírios
O Museu Palácio Floriano Peixoto (MUPA) integra o "conjunto arquitetônico dos Martírios" - tombado pelo Patrimônio Estadual através do Decreto nº 38309, de 9 de março de 2000 - onde se concentram os edifícios da Fundação e Museu Pierre Chalita e da antiga Intendência Municipal, denominada de Palácio das Águias e que, por suas linhas neogóticas, completam o sítio, com importantes destaques na vida sócio-política, religiosa e cultural da população alagoana.
O Museu foi criado por decreto assinado pelo então governador Ronaldo Lessa, em 27 de março de 2006, com o objetivo de resgatar a história da secular casa que o hospeda e os acontecimentos mais marcantes de sua trajetória enquanto sede do governo de Alagoas em seu primeiro momento. No Art. 3º do decreto, fica estabelecido que "o Palácio Marechal Floriano Peixoto, palco de grandes decisões políticas pela sua importância na história de Alagoas, será transformado em museu, aberto à visitação pública e reservado para recepções e solenidades oficiais". A inauguração oficial ocorreu no dia 18 de maio de 2006, durante o mandato do então vice-governador Luiz Abílio de Souza Neto.
No Museu também é possível conhecer espaços que apresentam obras do alagoano Aurélio Buarque de Holanda (autor de um dos mais importantes dicionários da língua portuguesa), e podem ser vistos objetos pessoais do escritor, como óculos, máquinas de escrever, livros e pequenos escritos do seu próprio punho. No centro do espaço, destaca-se um imenso busto do dicionarista.
Outro espaço que compõe o Museu é o memorial dedicado ao escritor e poeta Lêdo Ivo, atualmente fechado à visitação pública em razão de obras de manutenção do local. Recentemente, de acordo com a supervisora do MUPA, Aline Torres, o memorial recebeu a ilustre visita da neta de Lêdo Ivo, Joana Ivo Lima, 71 anos, junto com a família. Atualmente eles residem no Rio de Janeiro. “Abrimos excepcionalmente o memorial para que ela e a família pudessem conhecer. Foi uma visita inesquecível”, pontuou Aline.
Uma equipe dedicada no cuidado com a preservação da história
O cuidado com a conservação das peças é atribuído à dedicação da equipe do Museu, a exemplo do servidor Rafael Soares, que há 21 anos é responsável pela manutenção do acervo do palácio. Trabalhando desde o governo de Geraldo Bulhões, seu Rafa, como é chamado, diz que conhece como a palma da mão cada cantinho do palácio e cuida como se fosse sua casa. Para não estragar e manter a conservação do acervo, composto de muitos móveis de madeira dos séculos XIX e XX, é utilizada uma cera especial de óleo de carnaúba.
Rafa é responsável por manter em funcionamento dois relógios antigos, instalados no salão de despachos e na sala ao lado, antigo gabinete dos governadores. Ele também sustenta a lenda de existência de fantasmas no palácio. “Eu já vi muitas vezes andando e dando risadas”, assegura. Verdade ou não, com certeza há muitas histórias para contar do Palácio Floriano Peixoto, residência oficial de muitos governadores e palco de diversos fatos que marcaram a história de Alagoas, algumas inusitadas, a exemplo do impeachment do governador Muniz Falcão em 1957, que lá ficou entrincheirado, e em 1997 no afastamento dramático do então governador Divaldo Suruagy.
Segundo a supervisora do MUPA, Aline Torres, o que chama a atenção da equipe é que os relógios só funcionam quando é o próprio Rafa quem dá corda neles. “Se outra pessoa fizer isso, os relógios não funcionam”, conta Aline. Ela afirma que tem uma ligação afetiva com o Palácio Floriano Peixoto. Sua tia-avó Maria foi chefe de cozinha durante a gestão do governador Arnon de Mello. “Ela era chamada para fazer os banquetes oferecidos no palácio, pois achavam que só ela sabia preparar os pratos com peixes”, conta Aline, natural de Salvador, que chegou a Alagoas com apenas seis anos e passou a conviver com as histórias do Palácio. “Tenho uma verdadeira relação de amor com esse palácio, inclusive uma madrinha minha chegou a ser chefe de gabinete do governador Geraldo Bulhões”, acentuou.
Palácio Floriano Peixoto levou nove anos para ser concluído
O projeto arquitetônico e execução da obra ficaram sob a responsabilidade do engenheiro militar alagoano Carlos Jorge Calheiros de Lima, na administração do governador Gabino Suzano de Araújo Besouro (1892/1894) e após algumas paralisações que atrasaram a obra, foram retomadas na administração de Manoel Gomes Ribeiro Júnior (Barão de Traipú - 1894/1897), período em que atuaram, entre outros, os engenheiros Morada, Adolfo Lins, Francisco Severiano Braga Torres e Luiz Gonzaga. A obra viria a ser finalizada com o projeto do arquiteto italiano Luigi Guiseppe Lucarini (1842-1907), que trouxe inovações profissionais para época, inclusive assinando outros prédios que viriam a ser levantados, como o do antigo prédio-sede do Tribunal de Justiça de Alagoas.
Em um painel instalado no hall de entrada do Museu, está estampada a primeira página do jornal “A Tribuna”, do partido Republicano, anunciando três acontecimentos no dia 16 de setembro de 1902: a Emancipação Política do estado de Alagoas; o aniversário do então governador Euclides Malta (1900 - 1903) e a inauguração do Palácio Floriano Peixoto, que seria a primeira residência oficial dos governadores alagoanos.
Anteriormente à construção do Palácio do Governo, havia no local o sobrado do abastado comerciante português, Francisco José da Graça, localizado à Rua do Comércio, esquina com a Rua da Rosa, atual Senador Mendonça, onde se instalou, em 1819, o 1º Governador da Capitania, Sebastião Francisco de Mélo e Póvoas, e o sobrado do Barão de Jaraguá, situado na Rua Barão de Anadia. Este palacete foi demolido em 1940, para no local edificar-se o prédio do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transportes e Cargas.
Através do Decreto Estadual nº 417, de 17 de outubro de 1947, assinado pelo governador Silvestre Péricles de Góes Monteiro, o edifício oficial, residência e palácio do governo, passa a denominar-se de "Palácio Marechal Floriano Peixoto".